3 de dezembro de 2008

Pablo Neruda: 'Estar vivo'

Estar vivo!

Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê, quem não ouve música,
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.


Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajecto, quem não muda as marcas no supermercado, não arrisca vestir uma cor nova, não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.


Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.


Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.


Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!

Pablo Neruda

e.. à propos .. uma citação do Mário Cesariny:
nem sempre os que desistem ou morrem são quem vai mais morto


a imagem é um óleo sobre tela da pintora portuguesa
Teresa Dias Coelho


a.l.

3 comentários:

Anónimo disse...

Gostei imenso daqueles pés da TDC. E fui ver as páginaas de arte. Recomendo.

Anónimo disse...

Que bom este poema. Serve.

Anónimo disse...

Que bom este poema. Serve.