19 de janeiro de 2009

clar-evidências: Bertolt Brecht

Mandou-me isto uma amiga, na sequência do post anterior. Achei .. muito apropriado:

De que serve a bondade
1
De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?
De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não – livres?
De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?
2
Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!
Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!
Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio!
Bertolt Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas' ; Tradução de Paulo Quintela

Fiz depois uma pesquisa rápida e fui parar ao sítio As Tormentas [cliquem e façam o favor de ler: tudo, absoluta, inquestionavelmente, tudo!]. Eu, fiquei deslumbrada (ultimamente acontece-me muito, por que será?!:-)) desta vez com a actualidade, a clarividência dos poemas todos que o Luís Rodrigues lá pôs do Bertolt Brecht, genial dramaturgo alemão de que avidamente li (em alemão!!) acho que tudo, em tempos de faculdade.. Que é imperdoável não conhecerem.

E não resisti, transcrevo o que abaixo lerão, e que me traz à memória 'uma frase ultimamente muito batida' : "é a lei, que se há-de fazer? ......"
«Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar - Bertolt Brecht

a esta citação resisti ainda menos.. ora vejam:
«O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguer, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.»
- poema "O Analfabeto Político" ,
B. Brecht


al

1 comentário:

Unknown disse...

A nossa época, que fala tanto em economia, é esbanjadora. E esbanja o que é mais precioso: o espírito.

Dignidade aos professores, já!