É do Tiago, o comentário. Dele já conhecem a dedicação, a sensibilidade, a inteligência, a lucidez acutilante, a verticalidade. Sabem da fogosidade interventiva da sua juventude, da generosidade sem limites. Trago-vo-lo aqui novamente, em vésperas de mais um dia crucial na vida dos professores portugueses. Porque 'há sempre alguém que nos merece'.
«Falou-se (…) do que é ser aluno e que mudou muito, com a alteração, nomeadamente, da carga horária semanal. Estou agora no 12º ano, passei sempre, mais ou menos "tremido" (quase sempre para o menos "tremido"...), apenas com uma negativa o ano passado, no final do 1º período, a matemática A. Mas confirmo a existência de uma mudança profunda quer no lado docente quer no lado aprendiz.
Lembro-me de, desde o 5º até cerca do 8º ano, ter aulas no período da manhã, com uma aulita (quando a tinha) de 45 minutos na parte da tarde. Geralmente de Educação Física e, muitas vezes, à 6ª feira, para "descomprimir" a semana. Agora tenho um horário bastante acessível, com tempo livre que é muito bem servido por nós (alunos), quer seja para irmos à nossa vida, quer seja para estudarmos.
Mas olho com alguma tristeza para o horário de uma prima minha que entrou este ano para o 7º ano e que vive a um ou dois quilómetros de casa, perto de uma zona problemática. Tem de entrar na escola às 8 e meia da manhã e sair, muitos dias, às 6 e meia da tarde. Isto sem possibilidades de meios de transporte, vai sempre a pé. O mesmo se passa com o meu primo que entrou para o 5º ano, morador dessa mesma zona problemática.
Há uma frase, um ensinamento de vida, de que gosto muito: "O idiota é o que se cala perante o que não sabe. O verdadeiro estúpido é o que fala do que não sabe". Agora, este governo, estas políticas educativas, são as verdadeiras estupidezes, a verdadeira palavra transformada em lei de quem fala do que desconhece: a realidade das escolas. Por que incham de orgulho quando se lhes diz que a média nacional de matemática subiu 4 valores? Os portugueses baixariam 4 valores perante exames de outros países. Não é culpa dos professores. Eles fazem o que podem, muitas vezes muito mais! A culpa é de um programa sem margem de manobra que não deixa compensar falhas e enganos que tenham surgido em anos anteriores. A solução para um programa mal "programado"? Exames fáceis "para ver se safa a coisa". O verdadeiro estúpido é o governo, que emite decretos e estatutos sem conhecer a realidade. O idiota é o eleitorado que o elegeu, mas não teve culpa: antes da tempestade (leia-se eleições) vem sempre a calmaria.
A realidade dos alunos de hoje é muito diferente. Olho para os alunos de 3º ciclo de hoje, com as suas mochilas a rebentar pelas costuras (literalmente, não no sentido figurado), com uma má vontade (haja alguns que ainda quebram a média! De louvar!) de ir às aulas, com muito mais tempo de aulas que aquilo que eu tinha (35 horas, bolas!) e a única coisa que me vem à cabeça é uma palavra feia que não vejo conveniente colocar aqui.
Depois olho para os professores: cansados depois de uma noite mal dormida, sem rendimento por causa de uma gripe que não puderam tratar porque não tiveram margem de manobra para ir ao médico e medicar-se convenientemente, com uma má-vontade de aturar um bando de cerca de 30 alunos, ouvi-los a todos, responder às suas dúvidas, dar a matéria de um programa extensíssimo e ultra-condensado, fazer esquemas, fichas e apoios tais... E, mais uma vez, me surge a palavra feia. E vejo a diferença dos alunos de hoje e dos alunos de ontem (eu fico algures no meio, que apanhei ainda as duas alturas). E vejo a diferença entre os professores de hoje e os professores de ontem. E penso que para ter havido tanta mudança ao nível destes dois conjuntos a culpa não é dos conjuntos. É de alguém acima, alguém que "manda". O verdadeiro estúpido.
E quando olho para o conjunto, de alunos de hoje, com professores de hoje, vem-me outra vez a palavra feia à cabeça e desta vez não se fica por aí, digo-a baixinho, murmuro-a. E a seguir, "enfim"... »
postado por al
quadro de Franz Marc
3 comentários:
Obrigado professora, pela publicação do texto.
Mas, sobretudo, obrigado professores. Sei que, nesta luta, com toda a pressão, com toda a união, não apenas entre professores mas também entre professores e alunos (mais não seja porque, para os mais "calões" já vão dois dias sem aulas, como já tenho ouvido pela nossa escola dentro, do género "iá, curto bué dessa setôra, faz greve..." Enfiiim :p). Acredito, espero, que se consiga algo depois do dia de hoje (no relógio aqui do pc já são indicadas 00:10). Acho que já todos se dariam por contentes se houvesse um pedido de desculpas e um voltar atrás só um bocadinho. Não é preciso muito: só um despacho e mais um DR, que há um gosto especial por os fazer...
Mas perdi a determinada altura o fio à meada: queria deixar aqui o meu sincero e profundo OBRIGADO aos professores, para os que conheço, para os desconhecidos, por tudo. Obrigado.
já aqui queria ter vindo, Tiago: para te agradecer, uma vez mais, para me congratular contigo, com a tua lucidez, a tua solidariedade.
Para te dizer, também, que recebi, por mail, 'n' msgs de apreço, de admiração por ti .. esperava q fossem eles a pôr aqui os seus comentários, por isso tardei..
bjis
Fico extremamente contente por receber essas notícias relativamente a algo que eu escrevi. Fico extremamente agradecido a quem gostou. Um grande obrigado, um OBRIGADO, mesmo, à professora e a todos os que deram um feedback positivo. Muito obrigado.
Bjs ^^
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